Mudanças
de humor constantes podem ser sinais de transtorno bipolar, por isso conhecer
os sintomas da doença é essencial.
Uma
montanha-russa de sentimentos e atitudes. É assim que a maioria das pessoas
descreve o transtorno afetivo bipolar do humor (TAB). Apesar de a doença ser comumente marcada por um humor que
muda da água para o vinho, é necessário conhecer mais a fundo seus sintomas.
Muitas vezes os sinais do TAB podem
ser confundidos com os de outras enfermidades, comprometendo o diagnóstico, o
tratamento e, por fim, a saúde do paciente.
De
acordo com o psiquiatra José Alberto Del
Porto, professor titular da Unifesp,
o TAB caracteriza-se pela ocorrência
de episódios de mania que se revezam com frequência com períodos de depressão e
de normalidade. A mania é retratada pelo humor exaltado, euforia,
hiperatividade, fala exagerada, diminuição da necessidade de sono, exacerbação
da sexualidade e comprometimento da crítica, explica Del Porto, acrescentando
ainda que os episódios maníacos também podem incluir irritabilidade,
agressividade, incapacidade de controlar adequadamente os impulsos, aceleração
do pensamento, distração elevada e, embora haja aumento da atividade, a pessoa
não consegue ordenar as ideias para alcançar objetivos precisos.
Nem
sempre o paciente manifesta sintomas de forma tão separada e de fácil
identificação. Nos últimos anos, a área médica tem reconhecido a importância da
hipomania caracterizada por quadros de mania mitigada, ou seja, mania com
sintomas mais suaves e brandos, que não se apresentam com a gravidade da mania
propriamente dita, esclarece Del Porto.
É
possível ainda a existência de um estado misto no qual os sinais de depressão e
de mania se alternam de forma muito acentuada no mesmo dia. A pessoa pode
acordar se sentindo triste, desanimada e depressiva, e passar por uma melhora
ao longo da manhã, passando a se sentir progressivamente mais eufórica, ou o
oposto. Também pode sentir-se hiperativa, fazendo gastos e, ao mesmo tempo,
reclamar excessivamente de maneira pessimista e ter vontade de morrer, por
exemplo. Com muita frequência, ocorrem estados mistos na passagem de uma fase
de hipomania - ou mania - para depressão e vice-versa.
Oficialmente,
existem dois tipos de transtorno afetivo bipolar. O tipo I representado pela mania plena e depressão maior, enquanto
que o tipo II é marcado por uma
depressão maior alternada com hipomania de menor intensidade e duração. Existem
ainda casos de pessoas que possuem aspecto bipolar, ou seja, manifestam sinais
mais brandos da doença. É a prevalência do transtorno bipolar, em suas formas
típicas, chega a 1,4% da população geral. Mas, se considerarmos os pacientes
com espectro bipolar, o número chega a 4,5%, o que faz da doença um problema de
saúde pública, alerta o especialista.
Todas
essas particularidades dos sintomas podem trazer dificuldades para o
diagnóstico correto de transtorno bipolar. Não é a toa que é um trabalho que
exige tempo e investigação cuidadosa, incluindo muitas vezes entrevistas com os
familiares do paciente. Levantar adequadamente o histórico do paciente é
fundamental, pois o psiquiatra precisa estar munido de todas as informações possíveis,
como hábitos rotineiros, dependências (tabagismo, alcoolismo, uso de drogas),
casos de transtornos afetivos na família, entre outros. É o primeiro passo a
fazer para descartar outros males que podem mascarar o transtorno bipolar, como
depressão, esquizofrenia e outros transtornos de personalidade, diz Del Porto.
O
tratamento adequado para TAB inclui
medicamentos estabilizadores do humor e acompanhamento psicoterápico.
Atualmente, existem medicamentos disponíveis do mercado que são capazes de reduzir
os efeitos colaterais normalmente atribuídos a esse tipo de produto. Entre
essas opções, estão o Geodon
(cloridrato de ziprasidona), que teve uma nova indicação para o tratamento da
fase de manutenção da mania bipolar aprovada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) no Brasil. Indicado também para controle da fase aguda,
prevenção de recorrência em pacientes bipolares e para portadores de
esquizofrenia, o produto tem a vantagem de não apresentar alguns dos efeitos
adversos associados aos demais antipsicóticos atípicos, como ganho de peso
excessivo e indução a síndrome metabólica (aumento do colesterol, triglicérides
e da glicemia).
Controlar
os sintomas também é possível com a adoção de alguns hábitos no cotidiano do
paciente que podem ajudá-lo a conviver com a doença. Evitar o consumo de
álcool, nicotina e drogas estimulantes, manter uma rotina diurna (dormir e
acordar nos horários regulares), não trabalhar em turnos, manter o convívio
social com parentes e amigos e até participar de grupos de apoio a pacientes
com TAB são medidas válidas e
essenciais para que a pessoa aprenda a lidar com a doença e prevenir possíveis
recorrências, orienta Del Porto.