Hoje
talvez não tivéssemos paciência, mas há 20 anos queríamos porque queríamos ir a
um restaurante estrelado de Paris, Nova York, ou até mesmo nos restaurantes de
nossas cidades de certo prestígio. Ligações para reserva de mesa um mês antes,
a resposta provavelmente seria: “Estamos
lotados!”.
A
Solução? Acrescentar um nobiliárquico (título de nobreza) von antes de seu sobrenome (verdadeiro) alemão ou fingir ser de
alguma família de prestígio ou até mesmo parente de alguma estrela da TV,
cinema ou de políticos. Voilà: na mesma hora aparecia um lugar na lista sempre lotada
do estabelecimento.
Resolvi
escrever sobre a ‘postura de ontem e de hoje’, depois de conversar com meus
amigos Gilberto Costa e Cleiton Andrade, sobre o comportamento
adequado para a sobrevivência na nova sociedade que se formou no Brasil. E
afirmo aqui que aprendi muito lendo sobre o assunto.
Ter
von, van, da ou de no sobrenome. Marca a procedência. É
o que distinguia as pessoas na Idade Média. O conceito é tão arraigado aos
costumes europeus que o ex-presidente Lula
é chamado de Da Silva nos jornais
portugueses ainda hoje.
Ter
retrato de família pintado por um grande artista. Com o retratado posando com
cara séria, porque sorriso é coisa de plebeu. Antigamente, o pintor era Velázquez, até recentemente, foi Lucian Freud. Para os brasileiros menos
afortunados, uma imagem tirada por um fotógrafo de prestígio e renome já basta.
A
nobreza inventou a etiqueta (pequena ética), já a burguesia criou a fineza.
A
nobreza aperfeiçoou o direito à excentricidade. Se a pessoa nasceu nobre, pode
quebrar tabus. É considerada excêntrica. Se nasceu plebeia, é chamada de louca
varrida. Notar as falhas alheias é deselegante. Se um convidado beber a lavanda
ou quebrar um copo, o anfitrião deve fingir que não reparou. Espero que meus
amigos não se irritem comigo quando isso acontecer em um de nossos encontros.
Em
hipótese, um nobre deve sempre evitar deixar um convidado constrangido. Agora
entendo por que minha avó, tão lady like, nunca disse “Saúde!” quando eu
espirrava.... E olha que ela era de origem simples, vinda lá do interior do Rio
Grande do Norte, São Tomé.
Para
os nobres, a maior representante de sua classe é a família Thurn und Taxis,
cujos ancestrais remontam a 1200. A Casa de Windsor, da rainha Elizabeth II, é um baby em comparação.
Já no Brasil, não saberia dizer, fora a família imperial, quem foram esses
nobres.
Para
a burguesia, a representante máxima da nobreza é a rainha Elizabeth II. Ela é a operária da realeza, a síntese perfeita do
que é a compostura. Seu vestido, ao contrário do da mulher de seu neto, não
levanta voo. Dizem que chumbinhos são costurados às bainhas de suas roupas.
Durante um ano normal, a rainha recebe 50 mil pessoas, nunca demonstrando
cansaço, enfado, indignação, júbilo ou pesar. Deixar que os outros percebam seu
estado de espírito é o máximo da falta de educação. Afinal, sua vida íntima
deve ser íntima.
Reclamar
de falta de saúde ou de alguma indisposição é o cúmulo da deselegância. É o fim
da picada contaminar a conversa com problemas (pessoais ou públicos).
Demonstração pública de tristeza é coisa de plebeu.
Quando
você se irritar com o barulho no restaurante ou dos vizinhos, não se recrimine,
pensando que virou um rabugento: você está sendo nobre. Os níveis de decibéis,
no mundo inteiro, distinguem as rendas e origens de qualquer um.
Existe
um termo chique para compostura: sprezzatura, difundida por Castiglione no
livro “O Cortesão”, de 1528. É a
arte de se controlar. Não suar, não gargalhar, não deixar lágrimas rolarem e
não espirrar na frente dos outros. Mentir para não constranger. Ter aplomb, savoir faire.
Não
estar presente nas mazelas da vida. Conversação que fuja de assuntos de saúde.
Ou dizer que está com fome... É elegante nunca ter fome. É elegante não se
queixar.
O
máximo da nobreza? Não invadir o espaço alheio. Hoje, vemos muito a etiqueta
sem ética. As pessoas perdem a noção das coisas ao agir sem pensar em
determinados momentos.
Falando
em delicadeza, lembrei agora que no final de 2013 fui convidado a me retirar do
apartamento de um de meus melhores amigos, da época. Já em 2014, foi a vez de
ser convidado a me retirar de uma festa por um convidado, por não ter sido
convidado, segundo ele. Imagina se eu iria a uma festa sem ter sido convidado?!
Dizer
algo simpático (agradável) sempre que possível. Afinal, sprezzatura não é falsidade, é delicadeza.
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