Todos
nós sabemos sobre as historias das vidas de Judas Iscariotes e de Joana D’arc,
por isso que não vou estender sobre a historias de ambos que tem o mesmo
espírito.
Depois
do ato de suicido de Judas Iscariotes, e tendo passado pouco tempo no vale dos
suicidas, ele estando com o espírito profundamente perturbado e enlouquecido,
recebeu a visita de Jesus, que permaneceu três dias ao seu lado até que ele
adormecesse; só depois desse gesto de amor e de perdão é que Jesus apareceu
materializado a Maria Madalena, segundo o Evangelho de João (20: 11 a 18).
Judas
obteve a oportunidade de reencarnar diversas vezes na Terra e a sua última
reencarnação foi como Joana D'arc, a sua última prova, para resgatar seus
débitos para com a sua própria consciência, e se tornar um espírito livre.
Como
Joana D'Arc, aos 13 anos de idade começou a ter visões de São Miguel que
falava-lhe sobre umas novas aparições, que seria as de Santa Catarina e Santa
Margarida que viriam em nome de Deus para cumprirem uma missão, e dar as ordens
a Joana D'arc para liderar a França na Guerra dos Cem Anos contra a Inglaterra,
como já sabemos. Depois da vitória da França, Joana foi injustamente condenada
por bruxaria, heresia e por blasfêmia, por receber tais mensagens, assim
considerada bruxa ela foi levada pela Inquisição, onde queimou e sofreu seus
últimos instantes na Terra. Ao desencarnar ela se encontrou com Santa Catarina
e Santa Margarida, que lhe disseram que Jesus estava pela sua espera há muito
tempo.
A
seguir coloco a conversa que o consagrado escritor Humberto de Campos teve com
Judas Iscariotes em Jerusalém, às
margens do Jordão, a conversa foi sobre a condenação de Jesus, é uma entrevista
esclarecedora, ditada a Chico Xavier, em Pedro Leopoldo, em 19 de abril de
1935. Este texto é do livro "Crônicas de Além-Túmulo". Leiamo-la:
Nas
margens caladas do Jordão, não longe talvez do lugar sagrado, onde o Precursor
batizou Jesus Cristo, divisei um homem sentado sobre uma pedra. De sua
expressão fisionômica irradiava-se uma simpatia cativante.
- Sabe quem é este? - murmurou alguém
aos meus ouvidos. - Este é Judas.
- Judas?!...
- Sim. Os espíritos apreciam, às vezes,
não obstante o progresso que já alcançaram, volver atrás, visitando os sítios
onde se engrandeceram ou prevaricaram, sentindo-se momentaneamente
transportados aos tempos idos. Então mergulham o pensamento no passado,
regressando ao presente, dispostos ao heroísmo necessário do futuro. Judas
costuma vir a Terra, nos dias em que se comemora a Paixão de Nosso Senhor,
meditando nos seus atos de antanho...
Aquela figura de homem magnetizava-me.
Eu não estou ainda livre da curiosidade do repórter, mas entre as minhas
maldades de pecador e a perfeição de Judas existia um abismo. O meu
atrevimento, porém, e a santa humildade do seu coração ligaram-se para que eu o
atravessasse, procurando ouvi-lo.
- O senhor é, de fato, o ex-filho de
Iscariotes? - perguntei.
- Sim, sou Judas - respondeu aquele homem
triste, enxugando uma lágrima nas dobras de sua longa túnica.
Como o Jeremias, das Lamentações,
contemplo às vezes esta Jerusalém arruinada, meditando no juízo dos homens
transitórios...
- E uma verdade tudo quanto reza o Novo
Testamento com respeito à sua personalidade na tragédia da condenação de Jesus?
- Em parte... Os escribas que redigiram
os evangelhos não atenderam às circunstâncias e as tricas políticas que acima
dos meus atos predominaram na nefanda crucificação. Pôncio Pilatos e o tetrarca
da Galiléia, além dos seus interesses individuais na questão, tinham ainda a
seu cargo salvaguardar os interesses do Estado romano, empenhado em satisfazer
as aspirações religiosas dos anciãos judeus. Sempre a mesma história. O
Sanedrim desejava o reino do céu pelejando por Jeová, a ferro e fogo; Roma
queria o reino da Terra. Jesus estava entre essas forças antagônicas com a sua
pureza imaculada. Ora, eu era um dos apaixonados pelas idéias socialistas do
Mestre, porém o meu excessivo zelo pela doutrina me fez sacrificar o seu
fundador. Acima dos corações, eu via a política, única arma com a qual poderia
triunfar e Jesus não obteria nenhuma vitória. Com as suas teorias nunca poderia
conquistar as rédeas do poder, já que, no seu manto e pobre, se sentia possuído
de um santo horror à propriedade. Planejei então uma revolta surda como se
projeta hoje em dia na Terra a queda de um chefe de Estado. O Mestre passaria a
um plano secundário e eu arranjaria colaboradores para uma obra vasta e
enérgica como a que fez mais tarde Constantino Primeiro, o Grande, depois de
vencer Maxêncio às portas de Roma, o que, aliás, apenas serviu para desvirtuar
o Cristianismo. Entregando, pois, o Mestre, a Caifás, não julguei que as coisas
atingissem um fim tão lamentável e, ralado de remorsos, presumi que o suicídio
era a única maneira de me redimir aos seus olhos.
- E chegou a salvar-se pelo
arrependimento?
- Não. Não consegui. O remorso é uma
força preliminar para os trabalhos reparadores. Depois da minha morte trágica,
submergi-me em séculos de sofrimento expiatório da minha falta. Sofri horrores
nas perseguições infligidas em Roma aos adeptos da doutrina de Jesus, e as
minhas provas culminaram em uma fogueira inquisitorial, onde, imitando o
Mestre, fui traído, vendido e usurpado. Vítima da felonia e da traição, deixei
na Terra os derradeiros resquícios do meu crime, na Europa do século XV Desde
esse dia, em que me entreguei por amor do Cristo a todos os tormentos e
infâmias que me aviltavam, com resignação e piedade pelos meus verdugos, fechei
o ciclo das minhas dolorosas reencarnações na Terra, sentindo na fronte o
ósculo de perdão da minha própria consciência...
- E está hoje meditando nos dias que se
foram... - pensei com tristeza.
- Sim... estou recapitulando os fatos
como se passaram. E agora, irmanado com Ele, que se acha no seu luminoso Reino
das Alturas que ainda não é deste mundo, sinto nestas estradas o sinal de seus
divinos passos. Vejo-O ainda na cruz entregando a Deus o seu destino... Sinto a
clamorosa injustiça dos companheiros que O abandonaram inteiramente e me vem
uma recordação carinhosa das poucas mulheres que O ampararam no doloroso transe...
Em todas as homenagens a Ele prestadas, eu sou sempre a figura repugnante do
traidor... Olho complacentemente os que me acusam sem refletir se podem atirar
a primeira pedra... Sobre o meu nome pesa a maldição milenária, como sobre
estes sítios cheios de miséria e de infortúnio. Pessoalmente, porém, estou
saciado de justiça, porque já fui absolvido pela minha consciência no tribunal
dos suplícios redentores.
Quanto
ao Divino Mestre - continuou Judas com os seus prantos - infinita é a sua
misericórdia e não só para comigo, porque, se recebi trinta moedas, vendendo-O
aos seus algozes, há muitos séculos Ele está sendo criminosamente vendido no
mundo a grosso e a retalho, por todos os preços, em todos os padrões do ouro
amoedado...
- E verdade - concluí - e os novos
negociadores do Cristo não se enforcam depois de vendê-LO.
Judas
afastou-se tomando a direção do Santo Sepulcro e eu, confundido nas sombras
invisíveis para o mundo, vi que no céu brilhavam algumas estrelas sobre as
nuvens pardacentas e tristes, enquanto o Jordão rolava na sua quietude como um
lençol de águas mortas, procurando um mar morto.